sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O timing foi excelente. Após aquela experiência impressionante que foi Auschwitz e a sensação de isolamento que tomou conta de mim, a visita de 4 noites a Budapeste não poderia ter sido melhor.

Pela primeira vez nessa viagem (e provavelmente a última), tive uma companhia em tempo integral. No primeiro dia, novamente me encontrei com os lusitanos, ficando até a tarde perambulando pela cidade. Se der tempo, vou visitá-los antes de voltar ao Brasil. À noite, uma ida ao aeroporto. A ansiedade era tanta que cheguei lá mais de 1h antes do horário estimado para a aterrisagem. E assim que cheguei, vejo que o vôo estava atrasado.

Algumas voltas pelo aeroporto e muita bateria de iPod gasta, ela chega. Novamente ela, para mais uma aventura, alguém muito íntimo para eu poder descarregar os conflitos que Auschwitz me proporcionou e me fazer retomar o rumo da viagem. Como disse, o timing foi excelente.

Budapeste é uma cidade encantadora e que em muitos aspectos me lembrou Barcelona. Limpa, organizada, grande sem ser, linda, com a diferença que os húngaros parecem ser mais simpáticos que os catalães.

Como tivemos 4 noites, deu para aproveitar o local com calma. Passeios pelos principais pontos turísticos, alguns não tão turísticos assim, uma vida mais próxima do normal, sem ter tanto aquela cara de "estou viajando". Ida ao mercado, sair no meio da noite para tomar sorvete, gastar algumas horas relaxando num banho termal tradicional de Budapeste, voltar ao hotel no meio do passeio só para assistir corrida de F1 (que era lá mesmo naquele fim de semana, mas que desistimos de ir). Até o clima deu uma trégua, estando quente mas nem de perto quanto já enfrentei dias atrás. Definitivamente Buda e Peste foram dos pontos altos da viagem. E como uma companhia faz diferença.

Após o retiro que foi a Hungria, hora das terríveis e odiadas despedidas. Sou péssimo nisso. Ainda mais não sabendo quando haverá um reencontro. Novamente sou golpeado pelas emoções. Mas como são elas que estão tomando conta da viagem, não necessariamente é algo ruim. Essa jornada é para ser sentida e vivida, então é bom estar com as entranhas expostas.

A saída para a Romênia foi tranquila, num trem noturno, dividindo a cabine com mais 2 austríacos. Quase perdi minha parada, Brasov, no meio da Transilvânia. No fim, deu certo.

O hotel reservado era perto da estação de trem e um pouco afastado do centro, algo como 20 minutos de caminhada. Mas aqui o centro da cidade não era meu objetivo. O que pega lá é o castelo do conde Drácula! Em tempos de Crepúsculo, ele fica meio em voga, então imaginei que lá estaria lotado de pequenos seres adolescentes que não fazem nem ideia do que é a lenda/realidade de Vlad III, o Impalador.

Falsa impressão. Mas, chegando lá, descubro algo não lá muito legal. FUI TAPEADO!

Eu conheço relativamente bem a história. Quando vi a construção falei: esse não é a fortaleza de Vlad. E estava certo. Aquele castelo era onde se ambientava a história de ficção escrita por Bram Stoker, inspirada no conde, mas não era o dele. Vá lá, ele passou umas 2 vezes por aquele local, mas o seu mesmo era mais ao sul, umas 2h de viagem. E agora está em ruínas, não tem ônibus para chegar lá nem trem. Teria que alugar um carro e fazer um bom desvio do roteiro. Desisti.

No suposto castelo do Dracula se vende de tudo, desde vinho local e espadas medievais a camisetas Nike falsificadas (se me falassem que a origem era do outro lado da Ponte da Amizade, eu acreditaria) e Banco imobiliário do Bob Esponja, passando por máscaras de carnaval, mel e cataventos.

Voltei para a cidade (o castelo fica em Bran, 45 minutos de ônibus de Brasov), dei uma boa volta pelo centro, subi de teleférico em uma montanha que tinha um letreiro imitando o de Hollywood com o nome da cidade e voltei para meu apartamento.

Apartamento? Pois é! O hotel não era um hotel, mas um apartamento de 3 quartos em um dos muitos prédios da época socialista pertencente a uma família que morava em outro local. Sensacional!

Meu quarto era enorme, com vista para a garagem lotada de carros velhos dos moradores daquele BNH romeno, havia uma cozinha, 2 banheiros, uma salinha de estar. Me senti em casa, foi ótimo para quebrar aquela sensação de hotel que é minha vida nas últimas semanas.

Ao sair de Brasov, rumei à capital Bucareste. E aqui, onde estou agora, foi meio traumático. Segui a receita de reservar um quarto próximo à estação de trem. Mas a região está toda em obras e ninguém falou isso, tive que dar uma volta ENORME a pé, passar no meio de obra, tudo cheio de areia, cães selvagens, uma merda. Desisti de passear pela cidade pelo cansaço que foi para chegar aqui e desmotivado por saber que teria que passar por tudo aquilo novamente. Para completar, o quarto é o pior em que fiquei nessa viagem, com uma cama tão ruim que as molas te impedem de dormir, machucando todo teu corpo, além dos buracos no que resta do colchão, uma internet capenguíssima que cai o tempo todo, um banheiro dos mais fedorentos que já entrei, uma ESCAVAÇÃO na janela, um frigobar que não funciona e o mais legal, um chuveiro sem cortina! O box é daqueles baixinhos, sem paredes, mas não tinha nada para evitar que a água saia daquela região do banho. Já prevendo o desastre, coloquei uma toalha no vão da porta, para evitar que o quarto se inundasse. Não deu outra, o banheiro alagou de tal forma que se eu tivesse um peixe poderia soltá-lo tranquilamente no chão que ele viveria no melhor aquário de sua vida.

Agora saio para a estação de trem, rumo a Sofia, na Bulgária. Não havia mais vagas no trem noturno (primeira vez que isso acontece nessa viagem), então tenho que encarar 11h de viagem durante o dia, perdi definitivamente o passeio por Bucareste, se eu acordasse hoje de humor melhor. De lá, pego um avião no sábado a noite para Istambul, Turquia. E tive que cortar Chipre do roteiro, as balsas demoram muito e o avião está caríssimo.

Um comentário:

Marie disse...

Que bom ler isso. Fico feliz em ter acrescentado algo de bom na sua viagem.