sexta-feira, 14 de maio de 2010

Eu sou mestre em falar uma coisa em um post e no seguinte fazer justamente o oposto, já perceberam? No último falei que jamais fiquei um mês sem escrever e que isso não aconteceria. E o que aconteceu?

É verdade, viajei bastante nesse tempo (Londres e depois Paris), entrei de cabeça nos trabalhos de conclusão de curso (um deles será apresentado daqui 10 dias), estou no meio de uma mudança de casa (essa semana me mudo), então a vida está atribulada de fato. Mesmo assim, não justifica essa falta de satisfação. Então, para compensar, um post enorme, sobre a viagem de Londres.

Alguns sabem que tenho o hábito de ficar escrevendo em um bloco de anotações e esse post foi feito nele, sem edições, a maior parte dele à medida em que as ações rolavam. Portanto, bom aproveitamento.




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(escrito originalmente em 22/4/2010)

É impressionante como antes de uma viagem, seja ela curta ou longa, lugar conhecido ou desconhecido, eu não consigo dormir. Fico pensando na hora de acordar, se não esqueci nada para colocar na mala, quanto tempo de sono tenho. A cabeça não desliga! Aí fico pensando no que fazer, as recomendações, de novo quanto tempo vou dormirei, se não esqueci nada... Vira um círculo vicioso até a hora que sucumbo ao sono. Ou hora de ir embora sem dormir, não raras.

Hoje não foi diferente. Estou voltando a Londres depois de 8 anos. Uma cidade que eu adoro, que me conquistou quando morei por lá, breves meses no já longínquo 2002. Quando fui tinha 17 anos, querendo ser adulto, liberdade, aquela coisa toda nova de estar por conta própria pela primeira vez na vida, embora sem precisar trabalhar. Experiência riquíssima, levo lições dela até hoje e levarei para sempre.

E hoje voltarei lá, lugar de muitas lembranças. Quase que não vou. Um vulcão de nome impronunciável entrou em erupção na Islândia e atrapalhou todo o espaço aéreo europeu. Meu voo chegou a ser cancelado mas, no dia anterior à viagem, foi descancelado.

Então levanto-me cedo, com todas aquelas ânsias na cabeça. Tomo banho, faço a barba, checo os papéis e passaporte pela ducentésima vez, tomo um cereal e vou em direção à estação de ônibus de Barcelona. Ônibus?

Pois é, cara pálida. Esta companhia aérea é uma low cost, voa de uma cidade próxima a Barcelona, Girona. Então pega-se o ônibus na rodoviária e 1h15 depois, estamos no aeroporto.

Pequeno, modesto, sem grandes pretensões, praticamente monopolizado por essa companhia. Achei que estaria mais cheio, já que esse é o primeiro voo com destino a Londres a encarar o monstro da fumaça.

Sento-me no avião, não há lugar marcado. Quarta fileira, janela da esquerda. Mentalizo que ninguém se sentará ao meu lado. Penso em sentar-me na poltrona do meio para poder desencorajar os outros passageiros, mas o senso de civilidade fala mais alto e fico só secando cada um que entra pela porta frontal, enquanto o comissário checa os bilhetes de embarque.

Aliás, esse cara me enerva. Quando entrei já me pediu o bilhete da maneira mais afeminada que já ouvi. Parece clichê mas não é. Tudo bem, isso nunca foi problema para mim, tenho amigos gays e me divirto com eles. Mas esse tem também aquela típica e constante cara de nojinho. Isso me irrita. E, porra, o cara FAZ A SOBRANCELHA! PUTA QUE PARIU, não é uma simples tirada de pêlos excessivos que o fariam parecer ter um bigode na testa, mas sim toda uma linha simétrica, arqueada, desenhada e que afina nas pontas! Bom, que se dane, só irei vê-lo agora na hora de entrar e já era.

Vibro quando vejo poucas pessoas restantes a embarcar e todos os compartimentos de bagagem ao meu redor já abarrotados. Agora é só questão de oficializar com a fechada da porta. Vou conseguir dar uma cochilada no voo.

A aeromoça bonitinha do cabelo recém tingido de vermelho mais forte que o da bandeira da China se posiciona na minha fileira, "bloqueando" o acesso de novas pessoas. Aê! (Pequeno parênteses: aeromoças bonitinhas são raras por aqui. Por onde andam?)

Fico olhando o movimento do aeroporto pela janela. De repente, uma fragrância irritantemente doce me ataca o nariz. Viro para o lado e um casal havia acabado de sentar-se ali. OS ÚLTIMOS A EMBARCAR!

Porra, perdi o cochilo.

O avião levanta voo. "Olha lá o mar!", "Que casa legal!", "Uma pista de kart ali" - e sobrevoamos os Pirineus, ainda nevados. Impressionante a imponência dessas montanhas.

O casal frufru ao meu lado não calou a boca até agora. Ela, uma quarentona de cabelo loiro escorrido tipo miojo, ele um cara qualquer. Sim, as europeias também têm cabelo miojo escorrido. E falam pra caralho.

Já que não consigo deitar-me nas poltronas, vou reclinar a minha.

Peraí, cadê o botão?

Essa porra também não reclina. Cacete! Custa tanto assim um botão? Sei que é low-cost mas isso é avacalhação!

O comissário nojinho fica fazendo propaganda por toda a duração do voo.; Jornal, bilhete de loteria, vinho, adesivo de nicotina, facas Ginsu e coletânea de melhores trilhas de novelas do Butão gravadas por eunucos.

Levantei-me, fui dar um descanso às minhas narinas e ouvidos irritados pela mulher miojo. Vou ao banheiro.

Banheiro de avião sempre é apertado, esse daqui é menor ainda. Tanto que praticamente fico de cócoras para fazer a necessidade, precisando dobrar os joelhos e abaixar o tronco.

Abro o zíper e, voilá! Murphy e sua lei atacam! Turbulência bem na hora do descarrego. Bato a cabeça no teto, caio para o lado, molho metade da parede com isso mesmo que você está pensando. Puta que pariu. Já é uma dificuldade fazer isso em banheiro de espaço tão limitado, imagina com turbulência. Agradeci que não me molhei, terminei o que tinha para fazer e apertei a descarga. Tomo um susto. Por mais que eu esteja habituado a voar e a saber o que acontece quando aperto aquele botão, sempre me assusto com o barulho da descarga. É batata.

Dei uma limpeza geral por ali e me resignei ao meu cantinho na janela, tentando abstrair da miojo que ainda não parou de falar. Vamos olhar a janela!

Rá! Só nuvens, não dá para ver nada. Bom, ao menos isso justifica a turbulência.

Tento cochilar mas, com a poltrona que não reclina e a matraca macarrônica disparada, impossível.

Pego uma revista da companhia aérea (essa é cortesia, diabos. Duvido que colocar um botão nas poltronas seja mais caro que fazer essa tiragem mensal!) e começo a folhear (dica de viajante: jamais dia na Espanha que você irá folhear. Em castelhano isso quer dizer transar!). Três minutos depois, já tinha acabado. Nada de útil.

As nuvens ficam mais esparsas, possibilitando a vista dos campos franceses. Legal, tudo igual. Em vinte segundos, fico entediado. Daqui 2 semanas irei a Paris, verei isso de novo.

Procuro no horizonte algum sinal da fumaça. Não vejo nada além de uma neblina. Será que é isso a tão temida ameaça à segurança mundial? Não, acho que não.

A aeromoça bonitinha foi lá para trás, deixando o nojinho aqui. Que beleza! Mas em breve a viagem acaba.

Opa! Chegamos à Normandia, palco histórico importantíssimo. Pelo menos é o que eu acho que é, pelo tempo de voo. Parece linda! Busco uma música francesa no iPod e a ouço em sua homenagem. Ironia se chamar "Un jour en France". Só tenho essa também. E uma que fala de Paris, mas cantada em alemão e um trecho de uma brasileira com uma carta em francês para o Antoine. Preciso de mais músicas francesas.

Acabamos de cruzar com outro avião. Tento tirar foto, mas não sei se ficou boa.

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O resultado da foto é esse. Dá para ver a trilha do motor e só.

Aproximando-se da ilha, troco para músicas inglesas. Dessas há várias opções. E vem uma sequência Beatles forte.

Dessa vez, quero tirar uma foto atravessando a Abbey Road. Eu e mais 30 milhões de pessoas no mundo terão uma igual, mas que se dane.

Olha! A ilha! Será Brighton? Portsmouth? Southampton? Sei lá, mas é uma cidade litorânea inglesa. Canal da Mancha atravessado. Fichinha, é só atravessar à Inglaterra que o tempo fecha de novo. Que coisa!

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A cidade inglesa

Nem na hora de aterrisar a Miojo cala a boca? Até o Bola 7 já está incomodado.

Bola 7 é outro passageiro, que estava sentado perto de nós. Quando eu não conheço as pessoas e nem saberei seus nomes, dou apelidos para ter uma referência. Perto de mim tinha o casal frufru (a Miojo e o cara), o trio pastelaria, o Bola 7, os boludos maricones (adivinha de onde eram), a aeromoça bonitinha e o nojinho. Além de outros que já esqueci, claro, já que não tinham relevância alguma. Será questão de tempo para esquecer esses daqui, também.

Enquanto o avião aterrisava, a Miojo explicava algo do lavabo dela pro cara. Pelo que entendi, eles trabalham juntos e voltam ainda hoje a Barcelona. Ótimo, não corro mais o risco de tê-la ao meu lado na volta.

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A Miojo e meu gogó

O Stansted é um aeroporto como o de Girona, com muito mais corredores longos para andar e encher o saco.

Passado o interrogatório da imigração, ir atrás dos ônibus que me levarão para a cidade. Aqui também dista pouco mais de 1h. Pego um que vai direto para a Victoria Station, bem ao lado da minha antiga escola.

Tenho uma prima que está morando em Londres. Marquei com ela nessa estação, em frente a uma lanchonete que há no painel de trens. E ela continua lá. Essas coisas não mudam. Se deixassem de ser assim, o mundo ficaria bem pior.

Encontramo-nos e fomos comer uma pizza ali perto. Demos risada, falamos besteiras, contei da viagem, ela da dela e fomos cada um para seu canto.

Como só encontrarei minha amiga no fim da tarde (agora são 15h), resolvi sair batendo canela pela região, matando saudade dos lugares que frequentava por aqui. Em menos de 5 minutos, chego à escola. Penso em entrar e ver como está lá dentro, mas desisti da ideia. Que continue na imaginação e na lembrança.

Caminho pelo Tâmisa e vou passando por diversos lugares que passei incontáveis vezes no passado. Alguns mudaram, a maior parte continua idêntica. É algo que realmente me marcou. E essa cidade tem um encanto em mim que é difícil explicar. Talvez seja a metrópole que mais me agrada no mundo (embora eu ainda não conheça Nova York). Hora de curtir, agora.



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Os dias passam, visito dezenas de lugares, alguns inéditos. Finalmente tiro minha foto na Abbey Road. Algumas fotos dessas andanças estão abaixo:

Houses of Parliament & Big Ben, vistos da Westminster Bridge

Tâmisa

Big Ben e Double Deck na mão inglesa

Churchill na Parliament Square

Fundos da Houses of Parliament

Battersea, a mesma construção da capa do Animals, do Pink Floyd


Emirates Stadium, estádio moderno do meu querido Arsenal

Wembley modernizado. Na outra viagem estive no antigo Wembley, assim como no Highbury, estádio antigo do Arsenal, mas não tirei fotos. Ambos foram demolidos. Nessa viagem também estive no Craven Cottage, estádio do Fulham, mas as fotos não ficaram muito boas.

Entrada do Hyde Park vista pela frente do Palacio de Buckingham

Palácio de Buckingham

Jardim de Buckingham

Jardim de Buckingham

Um brasileiro cabeludo que mora na Espanha, com camisa da Itália e que tira foto na Inglaterra

St. James Park

St. James Park

Leicester Square e a festa popular de São Jorge (St. George, patrono da Inglaterra e também da Catalunha, como Sant Jordí)

Na Victoria Embankment, em frente à London Eye

O grande Ben

Foto de turista

Covent Garden

Pontos turísticos ao escurecer, vistos da Waterloo Bridge

Mais uma

Já a noite

Tower Bridge at night

Abbey Road Studios

Em frente

A foto! Características dos 4 em 1 só, totalmente sem querer: lugar e mãos no bolso de John, cabelo de Ringo, barba de Paul e pernas de Harrison.

Na London Eye

As pessoas vão ficando pequenas...

... a cidade também...

... cada vez menores...

Big Ben, já não tão big assim

Houses of Parliament e o Battersea ao fundo

Houses of Parliament e Small Ben

No topo!

A margem sul do Tâmisa

Westminster Bridge vista de cima

Tâmisa