sexta-feira, 27 de agosto de 2010

E chegou o fim do que provavelmente foi a melhor experiência de minha vida.

Quando eu saí do Brasil, 1 ano atrás, estava extremamente empolgado pelo que viria pela frente, com a certeza que seria algo especial. Também senti muito medo, hoje admito isso com mais facilidade. Medo de não dar certo, de uma incapacidade de adaptação, da solidão, de ficar longe das pessoas que amo e não suportar isso, de acontecer algo comigo e ninguém souber, de eu ser esquecido ali ou, pior, de esquecer quem eu era.

Sobrevivi. E sobrevivi muito bem. Encarei os medos um a um, aprendendo a lidar com eles e a transformar em força. Quando me dei conta, eles haviam ido embora. Foi quando de fato comecei a aproveitar essa oportunidade. Fiz amigos, viajei muito, vi pessoas queridas que ficaram para trás e foram me visitar (ou eu fui visitar), conheci lugares maravilhosos, passei por experiências incríveis que me acompanharão para o resto da vida, evoluí demais como ser humano, pessoa, amigo, família. Essa evolução pôde ser notada aqui mesmo, nesse espaço, em cada texto, nos detalhes e na forma como cada um foi escrito, apesar de eu ser um péssimo demonstrador de emoções.

Vivi em um lugar fantástico, em que encontrei o equilíbrio perfeito das coisas que buscava entre estrutura, localização, beleza, clima, tamanho. É algo indescritível como me sinto em Barcelona e como tenho a sensação de que esse é de fato meu lugar, muito mais que qualquer outro lugar em que já estive, incluso minha cidade natal.

Esbarrei no problema de emprego. A Espanha estava afundada em uma crise fortíssima (na verdade ainda está, mas agora começa a demonstrar alguns pequenos sinais de melhora, mas ainda demorará um pouco para se recuperar). No começo não procurei emprego, queria sentir como seria o andamento do curso e estava envolto nos medos que comentei. Depois passei a buscar, mas me vi preso na questão da alta taxa de desemprego local e de ser um extra-comunitário, ou seja, vagas bem limitadas. Em tempos de crise nacional, praticamente inexistentes.

Não foi dessa vez. Batalharei para que não tenha sido a última. Assim espero.

Dessa experiência carrego já a saudade que jamais será satisfeita, a alegria de poder ter passado por isso, milhares de histórias, amigos para o resto da vida (longe de casa essas parcerias se intensificam absurdamente) e principalmente a riqueza de espírito que me proporcionou. Certamente encaro a vida de uma forma bem diferente à que fazia antes.

Fins després, Barcelona. Tornaré aviat, però teu estaràs sempre amb mi

Barcelona es poderosa, ella tiene el poder.

Acabou a “Adiós Muchachos Farewell Tour”, carinhoso nome dado à essa viagem de despedida. E terminou muito bem em Valência, ao lado de bons amigos e com direito a realização de sonho de infância.

Como disse no post anterior, a Tomatina era algo que eu sempre quis fazer. E realmente vale a pena. Sujo das cabeças aos pés de tomate, havia pontos em que era possível nadar nos esmagados misturados à água que os habitantes jogavam das janelas de suas casas e apartamentos nas pessoas por meio de mangueiras, baldes, canecas e bacias. Algo divertidíssimo, insano, completamente diferente. Fica ainda mais curioso quando pensamos que muitas vezes ao pisar em um buraco com lama já ficamos com nojo mas que, totalmente cobertos de tomate, água, suor, milhares de pessoas te esmagando e tacando tomates uns nos outros e eu não estava nem aí, até queria mais tomates.

O outro dia, que vem a ser hoje, foi basicamente praia e a viagem de trem de volta a Barcelona.

Esse é o último post sobre essa viagem, então acho que seria interessante fazer um balanço do que foi passar por 23 países em 10 semanas, que apesar de ser pouco mais de 2 meses pareceram uma vida inteira tamanha foi a intensidade.

Lugar

Melhor: Bled (Eslovênia) e Santorini (Grécia) – Menção honrosa a Berlim (Alemanha)

Pior: Hamburgo (Alemanha)

Bled foi um choque. Um cartão postal existente, um paraíso incrustado nos Alpes Julianos, em um país praticamente desconhecidos pelos brasileiros. Nada nessa viagem foi mais charmoso que o lago Bled e sua microilha abrigando uma igrejinha, vistos do castelo construído em um barranco bem ao lado. Já Santorini realmente justifica a fama que tem, com lindas praias, mulheres, comidas e um mar azul de um tom que jamais havia visto. Se for para lá, aproveite cada segundo. Berlim merece uma menção honrosa por ser uma cidade enorme e ao mesmo tempo encantadora. Muito da rica história alemã e mundial passa por Berlim, um lugar capaz de coisas fantásticas e terríveis. Culturalmente, talvez tenha sido o ponto alto da viagem, superando até mesmo Moscou e Atenas. O destaque negativo vai para Hamburgo, uma decepção total. Eu até agora busco algo de positivo naquela estada e não achei.

Estadia

Melhor: Berlim (Alemanha), Brasov (Romênia) e Helsinki (Finlândia), menção honrosa a Praga (Rep. Tcheca)

Pior: Veneza (Itália)

Antes de tudo, acho covardia citar casas de amigos em que fiquei, portanto elas não contam nessa estadia. Com essa premissa, tenho que ficar com os luxuosos hotéis de Berlim, Praga e Helsinki. Excelentes hotéis, com boa comida, preços de razoáveis a bons (exceto Praga, que foi o hotel mais barato que fiquei em toda a viagem e era um 4 estrelas!), bares e bom atendimento. Brasov entra aqui pela sua peculiaridade, era um quarto no apartamento de uma família, fez sentir-me em casa, tendo cozinha, banheiro, sala, etc, construído em um antigo condomínio socialista. Já Veneza foi um lixo, um prédio antiqüíssimo construído ao lado de um canal fedorento, em local barulhento e com a diária mais cara de todas. Internet paga e bem lenta, cama desconfortável, banheiro pequeno e sem box, o que inundava tudo.

Trem

Melhor: Moscou - São Petersburgo

Pior: Kaliningrado – Gdansk

Os trens europeus meio que seguem um padrão, não se diferenciam muito, mas houve algumas disparidades que mereceram esse tópico. Por curiosidade, o melhor e o pior colocado são russos. O primeiro era um trem moderníssimo, com todo o conforto e boa velocidade, além de um excelente preço. O segundo era horrível, lentíssimo (menos de 20km/h de média), quentíssimo (sem ar-condicionado e com janelas que não abriam, em plenos 37ºC na sombra).

País e povo

Melhor: Eslovênia, Portugal, Espanha, Alemanha

Aqui eu realmente penei para me decidir. Pensei até em tirar, mas quis deixar como tributo e agradecimento aos fantásticos eslovenos e portugueses, países que, principalmente por causa de seu povo, passei a nutrir um grande carinho. A Alemanha seria o país que moraria para trabalhar ou morar em cidade grande. Já Espanha (e Portugal também) eu realmente me sinto bem, é o que mais tem a minha cara, embora eu seja muito suspeito por ser apaixonado por Barcelona (e também Sevilha, Valencia, Porto, Lisboa, Cascais, Sintra... menos Madrid, que é legal mas não é a mesma coisa que os outros). Enquanto ao negativo, não gosto de falar dessa forma (prefiro pensar que são só culturas bem diferentes), os russos são isolados e não fazem questão alguma de mudar isso. Para um estrangeiro, é bem complicado, realmente difícil de poder aproveitar o lugar. Não se pode aproveitar as pessoas, ninguém se comunica com o outro. Uma pena, fiquei com impressão negativa da Rússia.

Surpresa

Melhor: Eslovênia, Santorini (Grécia)

Pior: Hamburgo (Alemanha)

Acho que já falei bem aí em cima os porquês.

Vivi coisas muito legais, riquíssimas em conhecimento e cultura. Passei por territórios europeus ocidentais, orientais, nórdicos, judeus, árabes, ciganos, desde pequenos povoados no meio do nada a civilizações outrora dominantes.

Muitas marcas roxas nas canelas por dormir em locais diferentes a cada noite e por ser um desastrado por natureza, uma única baixa na viagem (uma bateria reserva da maquina fotográfica, um grande feito), mais lugares com a letra B (foram 9, contando só os lugares em que me hospedei), alguns paraísos e alguns inferninhos, mas o que fica mesmo são as histórias e a experiência que será contada e lembrada para sempre.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Está acabando. Já estou de volta a terras espanholas. Muita coisa se passou nessas últimas 2 semanas, a mais notável delas foi o fim das maravilhosas férias nas ilhas gregas. Quero mais. Deveria ter ficado os 2 meses lá!

Brincadeiras à parte, aquela região realmente merece a fama que tem. É maravilhosa, especialmente Santorini.

Não fiz os 6 dias de praia como escrevi. Comecei pela terra do Minotauro, teria que dar uma fuga para perambular pela parte histórica de Iráclio, capital cretense, lugar de tanto valor histórico e mitológico. Bem interessante e frequentada em sua maioria por jovens. Pena somente que as praias legais ficam do outro lado dessa que é a quinta maior ilha do Mediterrâneo (atrás da Sicília, Córsega, Sardenha e Chipre, fora de ordem), então essa visita foi mais urbana e histórica. E que foi premiada na última noite com uma intensa chuva de meteoros que durou toda a madrugada. Indescritível.

Saindo de Creta, cheguei ao Paraíso, que atende pelo nome de Santorini. Uma ilha vulcânica, com o vulcão ainda ativo, com as vilas construídas bem no alto. Aquele cartão postal tradicional das ilhas gregas é aqui.

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Para poder ter mais liberdade, aluguei um quadriciclo pelos 2 dias, assim poderia pingar de praia em praia independente dos onibus, além é claro de poder parar em qualquer lugar e fazer o que bem entender. Essa foi talvez a melhor coisa que fiz em toda a viagem. Em nenhum ponto eu aproveitei tanto quanto em Santorini.
Acordava cedo, ia para uma praia, mergulhava, tostava um pouco no sol, pegava a moto, ia para outra, repetia o procedimento, parando no meio para uma cerveja BEM gelada e almoço, que o calor estava tenso. Com isso consegui conhecer Santorini inteira, aproveitando até bem depois do por do sol, quando parava para comer um crepe, tomar mais alguma coisa (já sem moto, claro).

Também gostava de sair dirigindo pelas estradas à noite, curtindo esse momento, parando para ver o céu estrelado, sentir o vento na cara e engolir mosquitos. Pequenos prazeres motociclísticos que eu sentia falta.

Saindo de Santorini, a barca para Mykonos, local que eu exclusivamente curti praia. Mais 2 dias tostando até o por do sol (aqui pelo menos acordava bem mais tarde, a praia ficava literalmente na saída do hotel), tomando cerveja, refletindo sobre a vida e nadando naquela imensidão azul.

Despedi-me da Grécia passando mais uma noite em Atenas, no mesmo hotel que fiquei antes que, sem exageros, possui a cama mais confortável que já dormi em toda minha vida, além de poder falar que vi 6 pores de sol em 6 dias, como esse aqui embaixo, em Santorini.

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Estava acabada a parte oriental da viagem. Próximo destino foi Porto, em Portugal. Uma cidade encantadora e acolhedora. Adoro Portugal e cada vez que vou lá, mais eu gosto. Aliás, isso vale para toda a península ibérica. Encontro com amigo, daqueles tão bacana que você lamenta por não poder ver sempre, passeio pela cidade e partida para outro continente: África.

Minha entrada e, infelizmente, única parada seria Marrakesh, dentro do Saara, no Marrocos.

Sabe o caos? É uma coisa evoluída e melhorada tendo como base esse local. Além do calor insuportável beirando os 45º durante o dia e os 37º à noite (quem falou que faz frio no deserto à noite é um grande brincalhão), as ruas são extremamente desorganizadas, um labirinto de formigas gigante e com passagens bem mais estreitas que se bifurcavam, trifurcavam e até mais. Para não me perder, decidi caminhar somente pela rua do hotel, numa inda e vinda estudada pelo mapa que passaria por alguns lugares interessantes.

Andei, cruzei aqueles mercados a céu aberto. Pelas ruas, se vende de tudo, mas principalmente tecidos e artesanato. Não encontrei nenhum mercado nem restaurante. Os locais que passam veículos não possuem nenhum tipo de sinalização por placas ou faixas pintadas. É uma terra de ninguém, com os carros andando numa loucura disputando espaço com motos, caminhões, bicicletas e pedestres, já que calçada não há ali. Invariavelmente carros invertiam a mão do tráfego, uma loucura. E claro que me perdi, mas acabei me achando sei lá como.

É preciso ficar esperto por lá, com os marroquinos te puxando pelo braço, tentando te vender tudo, etc. Tirando essas coisas, o lugar realmente é fascinante. A arquitetura totalmente diferente, o mundo árabe e suas peculiaridades e até o caos ganham uma beleza especial. Quis entrar em uma mesquita mas fiquei com receio de não me portar como deveria ou de desrespeitar algo de forma inconsciente, achei mais prudente olhar só da porta e me contive com isso.

Na hora de embarcar de volta para a Europa, uma série de problemas. Achei que me ferraria, mas consegui me virar e deu tudo certo. Ligo o iPod e o que toca?

Dá para não se animar com essa brincadeira do destino? Saí andando sorrindo como se minha vida fosse um comercial de margarina

Voltei à Europa, por Sevilha. A Espanha é demais. Um país que eu nunca dei muita pelota e que hoje sou completamente apaixonado. E Sevilha só reforçou isso, uma linda cidade, historicamente rica e peculiar, com suas influências romanas e muçulmanas, mas com uma raiz espanhola inegável, terra do flamenco, dança dos ciganos. Pena só que é quente demais, mas limpa, organizada, atraente.

Daqui a pouco embarco para Valencia curtir a tomatina (não sabe o que é isso? Pesquise no Google Imagens) com alguns amigos e a volta para Barcelona na quinta-feira, onde terei um dia e meio para dar meu adeus e voltar para o Brasil.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Não tinha muitas expectativas em relação à Bulgária. Excetuando as praias da costa do Mar Negro, não é um destino turístico comum. Sofia, sua capital e único lugar que tive tempo de visitar, me lembrou algumas cidades polacas. Os prédios antigos, algumas construções praticamente medievais, a história do povo sempre presente e o alfabeto cirílico novamente presente. Como assim? O alfabeto russo? Errado. O russo não é russo, é búlgaro. Mais uma coisa aprendida.

Foi um caos para comprar minha passagem de Bucareste a Sofia. O trem noturno estava lotado, então teria que perder 10h de viagem diurna. Por causa disso, cheguei bem tarde e mal tinha tempo de fazer check-in, quem diria passear. Então cheguei no quarto, tomei um banho e resolvi ligar a televisão, já que a internet não funcionava lá. Me diverti horrores com tanta bizarrice, uma das experiências mais surreais de minha vida. Havia um canal musical que só passava clipes tosquíssimos, praticamente caseiros. Tinha um, por exemplo, de um cara gordo de bigode cantando numa casa toda detonada, talvez até bombardeada, com uma loira cavalar rebolando e se roçando nos pilares. E música RUIM, com umas sonoridades meio indianas. Hilária!

Não era esse o que vi, mas o cantor é o mesmo e se bobear o cenário também


Esse é outro cantor famoso por lá, vi esse clipe também




Mudei um pouco de canal, passavam vídeo cassetadas, depois uma versão em búlgaro de Hit the Road, Jack, entre tantas outras tosqueiras. Até esqueci o cansaço e fiquei até 2 da manhã dando risada sozinho.

No dia seguinte, teria a manhã e o começo da tarde para conhecer Sofia, já que no fim da tarde deveria estar no aeroporto para embarcar a Istambul (1h de vôo frente a 14h de trem, 20 euros a mais somente). Dei aquele giro tradicional, almocei uma bela costela de porco digna de Outback e peguei um táxi para o aeroporto. 25 minutos depois, 8 euros. Táxi por essas bandas é muito barato. Em Bucareste eu peguei um para evitar aquela zona das obras e ir até a estação de trem. 8 minutos depois, 0,50€. Sem sacanagem, paguei 50 centavos numa viagem de taxi.

Vôo sem problemas, chega a Istambul. Agora me arrependo amargamente de ter deixado somente 2 dias para a Turquia. Que lugar fascinante! Essa diferença de culturas, tão presente nesta viagem, aqui é ainda mais evidente. Um país árabe (ocidentalizado, é verdade, mas ainda árabe), nada daquela organização metódica européia, muitas vezes me lembrava a 25 de março em SP, de tanta gente andando pelas ruas, buzinas para todos os lados, comércio vendendo de tudo, pessoas sentadas nas calçadas jogando gamão (bem popular na Turquia), tomando um tradicional chá local ou fumando seus narguilés. Muitas mulheres totalmente cobertas, mesmo com a temperatura constantemente acima dos 30ºC, andando 2m atrás dos homens. Fiquei realmente vidrado com a Turquia, querendo realmente ficar mais tempo, mas já havia comprado minha passagem para a Grécia, não dava.

O giro pela cidade foi muito interessante. As mesquitas, o comportamento social, a mescla árabe-européia. Uma coisa que eu precisava fazer e não sossegaria enquanto não fizesse era atravessar o Bósforo e pisar na Ásia. Descobri qual era a balsa e fui. Pronto, Thomas, mais um continente para tua conta. Agora só faltam África (em alguns dias) e Antarctica!

Vale a pena passar uma semana na Turquia, entre Istambul, Capadócia, praias do Mar de Marmara, Negro e Mediterrâneo. Infelizmente não havia tempo para tal, mas certamente volto para explorar com mais calma. E essa visita só me fez ficar com ainda mais vontade de ir ao Oriente Médio.

A próxima parada foi Atenas, berço da cultura helenística. Confesso que esperava algo nos moldes de Roma, mas não há tantos resquícios dos templos. Óbvio que há construções antigas maravilhosas como o templo de Zeus e o imponente Parthenon, mas não são tão numerosos quanto os romanos.

Também estava presente o calor, menos úmido que nos outros lugares (bem seco, até), mas em temperaturas nominais mais elevadas, o que gerava a mesma sensação. Acho que desaprendi o que é calor morando naquela cidade de temperatura agradável o tempo todo (tirando algumas poucas semanas de frio mais intenso, mas nada insuportável). Voltarei a Atenas daqui uma semana, quando acabarem minhas mini-férias da viagem. Oi? É, decidi tirar férias das férias. Chega de ficar zanzando pra cima e pra baixo com mala, mochila, máquina e correria para estação de trem/ônibus/avião. Uma semana viajando pelas ilhas gregas, só quero saber de sol, cerveja e mar. Creta, Santorini e Mykonos (Rodes e Kos não deu para aproveitar, ficaria muito caro e tomaria muito tempo). Aliás, neste exato momento estou no barco em direção à terra do Minotauro, portanto vou até o bar pegar a primeira cerveja e curtir as férias.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O timing foi excelente. Após aquela experiência impressionante que foi Auschwitz e a sensação de isolamento que tomou conta de mim, a visita de 4 noites a Budapeste não poderia ter sido melhor.

Pela primeira vez nessa viagem (e provavelmente a última), tive uma companhia em tempo integral. No primeiro dia, novamente me encontrei com os lusitanos, ficando até a tarde perambulando pela cidade. Se der tempo, vou visitá-los antes de voltar ao Brasil. À noite, uma ida ao aeroporto. A ansiedade era tanta que cheguei lá mais de 1h antes do horário estimado para a aterrisagem. E assim que cheguei, vejo que o vôo estava atrasado.

Algumas voltas pelo aeroporto e muita bateria de iPod gasta, ela chega. Novamente ela, para mais uma aventura, alguém muito íntimo para eu poder descarregar os conflitos que Auschwitz me proporcionou e me fazer retomar o rumo da viagem. Como disse, o timing foi excelente.

Budapeste é uma cidade encantadora e que em muitos aspectos me lembrou Barcelona. Limpa, organizada, grande sem ser, linda, com a diferença que os húngaros parecem ser mais simpáticos que os catalães.

Como tivemos 4 noites, deu para aproveitar o local com calma. Passeios pelos principais pontos turísticos, alguns não tão turísticos assim, uma vida mais próxima do normal, sem ter tanto aquela cara de "estou viajando". Ida ao mercado, sair no meio da noite para tomar sorvete, gastar algumas horas relaxando num banho termal tradicional de Budapeste, voltar ao hotel no meio do passeio só para assistir corrida de F1 (que era lá mesmo naquele fim de semana, mas que desistimos de ir). Até o clima deu uma trégua, estando quente mas nem de perto quanto já enfrentei dias atrás. Definitivamente Buda e Peste foram dos pontos altos da viagem. E como uma companhia faz diferença.

Após o retiro que foi a Hungria, hora das terríveis e odiadas despedidas. Sou péssimo nisso. Ainda mais não sabendo quando haverá um reencontro. Novamente sou golpeado pelas emoções. Mas como são elas que estão tomando conta da viagem, não necessariamente é algo ruim. Essa jornada é para ser sentida e vivida, então é bom estar com as entranhas expostas.

A saída para a Romênia foi tranquila, num trem noturno, dividindo a cabine com mais 2 austríacos. Quase perdi minha parada, Brasov, no meio da Transilvânia. No fim, deu certo.

O hotel reservado era perto da estação de trem e um pouco afastado do centro, algo como 20 minutos de caminhada. Mas aqui o centro da cidade não era meu objetivo. O que pega lá é o castelo do conde Drácula! Em tempos de Crepúsculo, ele fica meio em voga, então imaginei que lá estaria lotado de pequenos seres adolescentes que não fazem nem ideia do que é a lenda/realidade de Vlad III, o Impalador.

Falsa impressão. Mas, chegando lá, descubro algo não lá muito legal. FUI TAPEADO!

Eu conheço relativamente bem a história. Quando vi a construção falei: esse não é a fortaleza de Vlad. E estava certo. Aquele castelo era onde se ambientava a história de ficção escrita por Bram Stoker, inspirada no conde, mas não era o dele. Vá lá, ele passou umas 2 vezes por aquele local, mas o seu mesmo era mais ao sul, umas 2h de viagem. E agora está em ruínas, não tem ônibus para chegar lá nem trem. Teria que alugar um carro e fazer um bom desvio do roteiro. Desisti.

No suposto castelo do Dracula se vende de tudo, desde vinho local e espadas medievais a camisetas Nike falsificadas (se me falassem que a origem era do outro lado da Ponte da Amizade, eu acreditaria) e Banco imobiliário do Bob Esponja, passando por máscaras de carnaval, mel e cataventos.

Voltei para a cidade (o castelo fica em Bran, 45 minutos de ônibus de Brasov), dei uma boa volta pelo centro, subi de teleférico em uma montanha que tinha um letreiro imitando o de Hollywood com o nome da cidade e voltei para meu apartamento.

Apartamento? Pois é! O hotel não era um hotel, mas um apartamento de 3 quartos em um dos muitos prédios da época socialista pertencente a uma família que morava em outro local. Sensacional!

Meu quarto era enorme, com vista para a garagem lotada de carros velhos dos moradores daquele BNH romeno, havia uma cozinha, 2 banheiros, uma salinha de estar. Me senti em casa, foi ótimo para quebrar aquela sensação de hotel que é minha vida nas últimas semanas.

Ao sair de Brasov, rumei à capital Bucareste. E aqui, onde estou agora, foi meio traumático. Segui a receita de reservar um quarto próximo à estação de trem. Mas a região está toda em obras e ninguém falou isso, tive que dar uma volta ENORME a pé, passar no meio de obra, tudo cheio de areia, cães selvagens, uma merda. Desisti de passear pela cidade pelo cansaço que foi para chegar aqui e desmotivado por saber que teria que passar por tudo aquilo novamente. Para completar, o quarto é o pior em que fiquei nessa viagem, com uma cama tão ruim que as molas te impedem de dormir, machucando todo teu corpo, além dos buracos no que resta do colchão, uma internet capenguíssima que cai o tempo todo, um banheiro dos mais fedorentos que já entrei, uma ESCAVAÇÃO na janela, um frigobar que não funciona e o mais legal, um chuveiro sem cortina! O box é daqueles baixinhos, sem paredes, mas não tinha nada para evitar que a água saia daquela região do banho. Já prevendo o desastre, coloquei uma toalha no vão da porta, para evitar que o quarto se inundasse. Não deu outra, o banheiro alagou de tal forma que se eu tivesse um peixe poderia soltá-lo tranquilamente no chão que ele viveria no melhor aquário de sua vida.

Agora saio para a estação de trem, rumo a Sofia, na Bulgária. Não havia mais vagas no trem noturno (primeira vez que isso acontece nessa viagem), então tenho que encarar 11h de viagem durante o dia, perdi definitivamente o passeio por Bucareste, se eu acordasse hoje de humor melhor. De lá, pego um avião no sábado a noite para Istambul, Turquia. E tive que cortar Chipre do roteiro, as balsas demoram muito e o avião está caríssimo.